uma sexta-feira com saudades
1 de Agosto de 1933 - 21 de Abril de 2015
início do século XX. uma dama da alta sociedade. octogenária. num magasin em Paris. aflita para ir au toilette. entra no ascensor. aflita, diz ao pagem vite! vite! vite! mas o ascensor não anda mais depressa. o neto, narrador, é António Rebordão Navarro. saudades.
anos noventa do século passado. o António passeia por Madrid com a Maria Virgínia, a esposa, de repente vêem-se ameaçados por dois assaltantes. o Rebordão Navarro reage num segundo, começa a ladrar muito alto! e não é que os assaltantes fugiram!
três anos após a morte da mulher, o António pediu a minha mãe em namoro. viveram juntos uma década. no inverno viviam na casa da minha mãe. e no verão viviam na casa do António. junto à foz do douro. um pequeno chalet maravilhoso, muito húmido nos dias de chuva.
os nossos gatos iam com eles de casa em casa. houve um ano em que estavam a fazer obras no prédio ao lado do chalet e o gato da minha mãe, habituado a passar os dias na rua, subia os andaimes e sentava-se a observar o trabalho dos operários. divertia toda a gente.
depois da morte da Maria Virgínia, o António ia todos os fins-de-semana à campa levar-lhe um ramo de flores. a minha mãe um dia perguntou: quando a Maria Vírginia era viva, tu davas-lhe flores todas as semanas? a partir daí, o António levava um ramo de flores à falecida e trazia um para a minha mãe.
este mês o António fazia 91 anos. saudades. contava anedotas como mais ninguém.