o que a Paz significa para a Autora de Amor Líquido
A humanidade passa mais tempo a julgar-se pelas diferenças ilusórias do que a ter consciência de que, na verdade, todos somos iguais.
Todos somos gavetas, sabes? Gavetas que guardam segredos, os medos, memórias, as nossas histórias. Gavetas largas, outras pequenas. Gavetas semiabertas e outras que não encontram a chave para se fechar.
Uma vivência que se atropela pelo ter de ser antes do ter de estar. É nesse limbo que balanceia entre “e ses” consecutivos, que a paz nos foge das mãos. Por tantas vezes em que queremos ser para mostrar, ter para fazer parecer. O rebuliço interno mantém-se e a calmaria merecida da existência sobressalta-se nos inúmeros “porquês”.
Todos encaixamos no mundo do desencaixe e da imperfeição.
Não importa a textura, a cor, o tamanho ou o desenho. Nessa indiferença, julgamo-nos na dissemelhança sem nos darmos conta da parecença que nos faz fugir da vontade de comparação.
É nesse lugar que nos encontramos.
Com as farpas que restam, o ruído das calhas enferrujadas, o pó da madeira enfraquecida.
Na brevidade entre o inspirar e o deixar-se ir, aí sim, tardiamente, aprendemos que, onde quer que estejamos ou o que quer que guardemos dentro de nós, uma vez trancada, a luz apaga-se, a porta fecha-se e o pó que foi sendo de feitio, esconde, para sempre, a nossa identidade.
AUTORIA: Mafalda