o Ministério do Rocambolesco - Capítulo I
o mi.nis.té.rio do ro.cam.bo.les.co
Sir Beaver calou o despertador com um suspiro infeliz. sentou-se na cama e olhou para os pés vestidos com meias esburacadas. lembrou-se, como acontecia todas as manhãs, que tinha de cortar as unhas. novo suspiro infeliz. levantou-se e foi à cozinha preparar o café. a profissional Lady Sparrow já lhe tinha deixado à porta o cesto com o pequeno-almoço e o The Guardian. vivia no andar de cima, era a sua secretária. todas as manhãs o porteiro comprava os jornais habituais para ambos. Sir Beaver tinha o escritório no rés-do-chão, no espaço da antiga barbearia. mas só descia quando Lady Sparrow lhe batia à porta, confirmando que ia abrir as portadas do gabinete. coincidia com a altura do duche de água fria do seu patrão. Sir era um magricela, alto. a doce Lady tinha uma cintura de vespa e um sorriso que iluminava o dia. só o porteiro tinha algum excesso de peso que se acentuava por ser baixinho. Sir Beaver herdou o imóvel e renovou-o para os três terem o seu próprio pequeno apartamento, preservando todo o charme e antiguidade do edifício. desceu as escadas de chinelos, sem meias. Lady Sparrow percebeu logo o que ele lhe ia pedir mas, antes de o deixar entrar no escritório, apressou-se a dizer: respire fundo! tem visitas, Sir. ele olhou para ela e empalideceu, o que realçou as suas sardas e o cabelo ruivo. ela só o tinha avisado antes, naquelas duas décadas de convívio, quando o meio irmão de Beaver se fizera convidado. era um homem muito desagradável, um fugitivo. o detective acenou, deu meia volta e saiu da antiga barbearia. já recorrera a este subterfúgio antes e o porteiro divertira-se por demais. o patrão ajudou-o a disfarçar-se e incumbiu-o de não deixar ninguém sair do gabinete até ele voltar. disse-lhe para se descalçar, deu-lhe os chinelos e saiu a correr pelas traseiras descalço e atrapalhado pela relva húmida e pela lama típica do outono londrino. estava tão perturbado que nem viu o carro que teve de travar a fundo para não o atropelar. felizmente era um taxi! que o levou até à esquadra. o inspector Owl, velho conhecido desde a infância, viu-o chegar e não foi preciso dizerem nada. entendiam-se sem palavras.
texto no âmbito do desafio o Ministério do Rocambolesco
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