nos convívios de família a pessoa que se destaca mais é a solitária
A SOLIDÃO É A AUSÊNCIA DO OUTRO. A SOLITUDE É A PRESENÇA DO PRÓPRIO.
© Ana de Deus
se houvesse um observador atento aos laços afectivos, nos convívios de família a pessoa que se destaca mais é a solitária. ela não está sozinha. há uma diferença entre solidão e solitude. simplesmente toda a gente está ocupada a conversar com outra pessoa. ela viveu dez anos sedada, desaprendeu muita coisa. sente-se protegida no meio das pessoas que sempre a conheceram, por isso não se sente só. é despropositada o que por vezes é confundido com rudez. e nesses dez anos muitas pessoas convenceram-se que a sua presença ausente era a sua escolha.
contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que têm alguma noção de como o cérebro dela funciona. por exemplo, quando ela faz compras e opta por dois produtos iguais, porque ela os definiu como necessários, isso dá-lhe uma noção de que há paz nos dias, há ordem. se alguém lhe pedir um desses produtos, cria um caos em que a ansiedade e o sofrimento só páram quando a sua paz é reposta. por isso ela diz não! porque precisa de dar tempo ao tempo para alterar o que para os outros não significa nada, e que na verdade é a sua forma de lidar com o mundo.