amor de mãe é mágico
mudámo-nos para esta casa na véspera de vinte e quatro de dezembro. esqueci o ano. desde então, estamos acampadas no apartamento. nessa altura tinhamos cinco gatos e para mim era mandatório trazê-los nessa noite. a minha mãe estava fisicamente exausta, mas anuiu. quando estávamos a entrar no prédio da nova casa ela tropeçou nos degraus e caiu batendo com o queixo no chão e cortando a boca com os dentes de baixo. sangue por todo o lado. o taxista assustou-se, correu até ao posto da PSP a pedir ajuda. o polícia que veio com ele é um profissional exímio. ligou para o 112 identificou-se e levou uma nega. exigiu a identificação de quem estava do outro lado, avisou que ia reportar queixa e ligou para os bombeiros, que apareceram num ápice. depois de se certificar que ficávamos bem, voltou para a esquadra.
os bombeiros levaram a minha mãe para o hospital e eu fiquei com os gatos. tentei esperar por ela mas às duas da manhã rendi-me ao sono. todos os pormenores na casa tinham tanto amor da minha mãe que eu senti-me inteiramente protegida. a minha mãe estava com um pico de adrenalina e só dizia piadas. ao menos isso. o cirurgião que lhe coseu a boca fez metade bem e a outra metada atabalhoadamente. a minha mãe tem uma parte do lado interior do lábio normal e a outra metade com a carne cosida às três pancadas. infectou, teve de ser acompanhada no centro de saúde. mas antes disso, acordámos no dia vinte e quatro com a notícia que a minha prima tinha cancelado a consoada por se encontrar constipada. foi um natal na companhia uma da outra e dos gatos e de todos os nossos antepassados. a minha mãe estava de muito bom humor e a noite foi super especial.