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© busy as a bee on a rainy day

e se, de repente, o respondemos a um how are you e só nós pescámos a piada (as abelhas não voam quando chove) e vêmos que é um título fantástico para um blogue! pois.. cá estou então!

30
Abr20

desafio: quem conta um conto acrescenta um ponto.

Ana a Abelha

ilustração do conto por Olga Cardoso Pinto

ILUSTRAÇÃO POR OLGA CARDOSO PINTO

hoje desafio-vos a contar uma história dando seguimento ao que cada pessoa acrescentar,
no máximo, 200 palavras. usa a tag: desafio do conto, para ser mais simples encontrarmo-nos.

um enorme obrigada à doce Olga pela ilustração exclusiva, retratando a Clariana.

IMPORTANTE: publica o link deste post, para quem nos lê ter acesso ao conto todo.
eis o início da nossa história.. Amor Líquido tens coragem de a continuar?

INTRODUÇÃO POR ANA DE DEUS

Era uma vez uma jovem mulher, de seu nome Clariana, que pastoreava gansos. Ela era o primeiro ser vivo que os gansos reconheciam, desde tenro berço, e eram lhe totalmente fiéis. Aprendera com o avô todos os segredos desta mestria.

PRIMEIRA COLABORAÇÃO POR: AMOR LÍQUIDO

Clariana era a mais velha de três irmãos, todos eles filhos de Izabel e João Bernardo. Uma família de origens humildes que ocupava os seus dias na tranquilidade do campo, entre a lavoura do trigo, da batata, e a agropecuária. Izabel ocupava-se de todos os assuntos relacionados com a atividade económica do que produziam, contando com a ajuda de Clariana no terreno, junto dos animais, e Juca, a forma carinhosa como o pai era tratado, debruçava-se sobre a contabilidade da família. Os gémeos Tiago e Guilherme eram ainda pequenos, pelo que o seu maior contributo era a alegria constante que ofereciam àquela herdade. Construída em 1950, tinha sido herdada pela filha do avô Eurico. 

COLABORAÇÃO DA BII YUE

A vida era pacata, a rotina de vida campestre pouco variava até um dia, que Clariana estava a alimentar os seus gansos e vê um vulto a esconder-se por entre as árvores. Com o coração a bater de medo, mas com a sua faceta corajosa a vir ao de cima, começa a caminhar devagar e numa tentativa de fazer barulho. O vento fazia com que as folhas batessem umas nas outras, os gansos grasnavam baixinho. O vulto parecia estático e Clariana tentava movimentar-se silenciosamente, sentia o suor frio a escorrer pela sua pele, o seu corpo tremia com o medo e adrenalina. Estava bastante perto do vulto quando os gansos começam a grasnar alto e entram em luta uns com os outros, com o susto ela manda um grito, olha na direção dos gansos e quando volta o seu olhar para as árvores não podia acreditar no que via.

COLABORAÇÃO DO JOSÉ DA XÃ

Uma velha muito velha, baixa, de faces lavradas pelos anos e quiçá pelas demasiadas intempéries, olhava com curiosidade para a pastora. Nas mãos, magras e engelhadas, balançava um cajado preto da sujidade e assaz puído do uso.

Trajava uma roupa suja, aqui e ali deveras esfarrapada. O cabelo cinza encontrava-se escondido por debaixo de um lenço, também ele viúvo de cor e lavagens. No entanto os olhos pequenos e escuros permaneciam muito atentos ao que se passava em seu redor.

Entre o susto e o espanto Clariana encheu o peito de ar e enfrentou a anciã:

- Quem é vossemecê?

A idosa pareceu querer sorrir, mas a única coisa que conseguiu mostrar foi uma boca desdentada. Aproximou-se e passou os dedos sujos pelo cabelo bonito da jovem. Depois pela face. Esta desviou-se para trás alguns passos.

Curioso é que os gansos, sempre tão barulhentos, haviam-se silenciado por completo.

- Diga lá quem é vossemecê? – insistiu em tom peremptório, sem denunciar qualquer receio.

Novo sorriso da idosa que mais parecia um esgar… Por fim endireitou-se, abriu os braços e aproximou-se novamente da miúda, como se a quisesse envolver nos seus trapos rotos e nojentos.

 Disse então numa voz rouca e cavernosa:

COLABORAÇÃO DA ZÉ

- Como assim, quem sou eu?!... que raio de pergunta é essa Clariana?!...

- Vossemecê não se faça de desentendida e diga-me quem é, que eu já começo a perder a paciência!!! – disse, franzindo o sobrolho, em sinal de desagrado.

- Eu sou tu!... bem-vinda ao futuro! – disse a velha, abrindo os braços na sua direcção e soltando uma estridente gargalhada!

Clariana empalideceu, as pernas tremeram-lhe e caiu desamparada no chão.

Os gansos, agitados, começaram a grasnar de forma intempestiva, gerando um ruído ensurdecedor que atraiu a atenção de quem passava.

Clariana sentiu uma mão macia a afagar-lhe o rosto, abriu os olhos lentamente e foi surpreendia pela imagem de um belo jovem ajoelhado a seu lado, que lhe perguntava:  - a menina está a ouvir-me?!...

Assustada, e sem perceber o que havia ocorrido, tentou levantar-se rapidamente mas a sua tentativa foi infrutífera… a cabeça pesava-lhe e parecia que tudo girava à sua volta…

O rapaz disse-lhe, com voz doce: - fique calma e não tente levantar-se… a menina caiu e perdeu os sentidos… vamos levá-la ao hospital para fazer alguns exames e garantir que está tudo bem. Eu acompanho-a na ambulância!

COLABORAÇÃO DA LUÍSA DE SOUSA

Clariana não queria acreditar na beleza do jovem rapaz. Louro, elegante, bem vestido e cheio de modos da cidade. Nunca tinha visto um rapaz tão bonito! E queria acompanhá-la ao hospital!

- Não se preocupe, eu estou bem, foi só uma queda. Em vez de irmos ao hospital poderíamos ir ver como estão os meus gansos! Tenho a certeza que vão simpatizar consigo! – disse Clariana.

O jovem rapaz concordou, pois achou a ideia maravilhosa. Como vivia na cidade, nunca tinha visto gansos. Esta seria uma oportunidade maravilhosa para escrever sobre animais de quinta na sua tese de mestrado.

Assim que se aproximaram da casa de Clariana, os gémeos vieram a correr abraçar a irmã. O jovem rapaz ficou encantado com a cumplicidade que reinava naquela família.

Izabel, assim que viu a filha a aproximar-se com o belo rapaz, pensou que seria um bom partido para "desencalhar" Clariana, e, amavelmente veio cumprimentá-lo.

Juca, ao contrário, não gostou nada de ver a sua Clariana com um estranho, ainda mais um rapaz da cidade, que com certeza queria aproveitar-se da jovem do campo. Foi ao armazém buscar a caçadeira e saiu a disparar, “que nem um louco”, por todos os lados …

COLABORAÇÃO DA ISABEL

Alguns pardais, apanhados desprevenidos pelos tiros, desalvoraram pelos céus a pensar no que se teria passado.

 -Oh paizinho, pelo amor de Deus, este simpático rapaz ajudou-me depois de eu ter desmaiado e nem queiras saber porquê, ainda estou para saber se encontrei uma bruxa ou se alucinei.

 - Oh homem tem calma, não há razão para isso tudo, olha se tens acertado em alguém, tinhamos a vida desfeita - disse Izabel - E o senhor desculpe esta reação do meu marido, mas quando diz respeito à filha, perde as estribeiras.

 - Claro, compreendo. Já agora o meu nome é Rodrigo, Rodrigo Mendonça. Peço desculpa pela intromissão, mas assustei-me quando vi a sua filha desmaiada.

 - E tu filha, estás bem? Tens a certeza que não é preciso ir ao hospital?

 - Estou bem mãe, não passou de um susto. Convidei o Rodrigo para vir ver os gansos. Não fiz mal, pois não?

 - Claro que não filha, e Rodrigo, o almoço está quase pronto, gostaria de nos fazer companhia? É um agradecimento pelo que fez.

 - Bem, realmente não tenho pressa de seguir caminho, por isso, aceito com muito gosto.

Aí, João Bernardo viu-se na obrigação de pedir desculpas, que foram imediatamente aceites pelo jovem.

Mas foi quando...

COLABORAÇÃO DA OLGA CARDOSO PINTO

Rodrigo se virou, para ir acomodar-se à mesa, eis que Juca se apercebeu de algo a remexer-se sob a gabardina. E agora que reparara com mais pormenor, o rapaz caminhava de um jeito estranho. Tentou aproximar-se, mas Rodrigo acabara de se sentar, tinha perdido a oportunidade.

A tarde foi decorrendo num lento remanso, só se ouvia a passarada lá fora e a voz melodiosa de Rodrigo. Talvez fosse do tempo ameno ou da conversa desfiada, em tom relaxado e levemente sibilado pelo jovem, todos estavam a ficar ensonados. As pálpebras pesavam aos pais, não conseguiam evitar o bocejo constante. Porém, Clariana estava embevecida, sorvendo as palavras de Rodrigo que lhe pareciam mel, num encanto que a envolvia numa dormência irresistível. Juca e Izabel não resistiram e acabaram adormecendo de cabeças encostadas, em ligeiros roncos e desfalecidos, pesadamente recostados no banco arca da cozinha.

A noite caíra. O céu adornado pelo pontilhado brilhante das estrelas, refulgiu quando as nuvens revelaram uma imensa lua cheia. Clariana acordou sobressaltada, não sabia onde estava. Sentia frio. Olhando em volta levantou-se, perguntando assustada:
— Onde… Onde estou? — ouviu passos no cascalho e apercebeu-se que estava numa gruta ao ouvir o eco da sua voz.

COLABORAÇÃO DA SARIN

Um gemido respondeu ao eco ecoando quando Clariana se ergueu, os olhos procurando quem assim plangente. Não era gente mas a Noite, dorida da queda antecipada pela voz dourada de Rodrigo, Clariana amargando o mel que lhe escorrera nos ouvidos e tentando encontrar um norte ou um sul para aquele tão sem sol onde se encontrava. A Noite percebeu-a perdida e um sorriso iluminou-lhe os brancos dentes perfeitos na cara de lua cheia, o traje de lua nova esvoaçando no estender de mão daquela criança.

- Nada temas, Clariana, eras esperada. Mas não te sabia tão perto e precipitei-me...
- Estás magoada?
- Estou, mas melhorarei, agora que tu aqui. Vem, adentremos a Gruta dos Tempos e ouçamos Eurico, o presbítero que a habita. O Avô vai adorar receber-te!
A saudade em Clariana suspirou, cheia de penas.
- O meu Avô também era Eurico. Foi quem me ensinou a amar os gansos e…
E a Noite, impaciente, cortando:
- Sim, eu sei, o Avô já me contou. E por te saber tão boa aluna enviou o Ganso Rodrigo para te trazer… o nosso Futuro precisa de tal arte!
Clariana olhou-a e percebeu nela um espelho, as semelhanças luzindo e as (...)

COLABORAÇÃO DO FILIPE VAZ CORREIA

As entrelaçadas rugas que uniam, uniriam naquele instante, memórias da velha bruxa de outrora, desta noite que ali a espera, da menina que ali se encontra.

No meio das dúvidas, das vozes, da luz trancada naquela gruta, algo maior se levantava, por entre o assobio do vento que parecia correr por aqueles túneis, num rebuliço constante e permanente.

- Para onde vais, Clariana? -Por que trilhos te leva este presente, futuro?

Palavras que ecoavam em sua mente.

No meio da estreita gruta, um lago profundo, repleto de cristais-de-rocha, num fumegar de águas tão azul como intenso.

Os sons dos Gansos que ali não estando, pareciam se perpetuar...

- Clariana! Parecia a voz de seu avô.

-Avôzinho? Questionava emocionada a jovem menina.

Do fundo daquele lago, daquele local especial, repleto de uma estranha e intrigante magia, algo parecia surgir...

Um suspirar intenso, imenso...

Cores e luzes misturadas com o agitar de águas...

Uma cabeça, um focinho, dois olhos desmesuradamente gigantes, num reflexo penetrante e asfixiante.

Um dragão...

- Quem sois vós?

 Clariana caiu com o tamanho susto, o medo que lhe tocara a alma.

- Quem sois vós? Insistia a pequena Clariana.

- Não tenhais medo! Expressava aquele Dragão chegando cada vez mais perto, da menina, o seu focinho.

Aquela voz...

- Avô?

COLABORAÇÃO DO TRIPTOFANO

- AVÔÔÔ?!?!

Clariana ergueu-se da cama acordada pelo seu próprio grito, encharcada em suor.

Demorou alguns minutos para perceber onde se encontrava, no seu quarto no centro do Porto. A cabeça latejava e quase que ia jurar que tinha febre. Será que estava infectada com o Covid?

Enquanto bebia um sôfrego gole de água começou a recordar as últimas horas. A saída à noite com as amigas, a insistência delas para experimentar um comprimido de LSD, a libertação do corpo ao som da música e depois…um sonho mirabolante com grutas e dragões, velhas enrugadas e uma vida no campo a cuidar de gansos.

Logo ela, filha de médica e advogado perdida numa fantasia de agrobeta.

Clariana não conseguiu conter uma gargalhada de escárnio, que foi imediatamente interrompida por um ataque de tosse. Se calhar tinha mesmo apanhado o Covid!

Quando finalmente deixou de tossir sentiu que algo lhe tinha vindo parar à boca, uma coisa que lhe provocava pequenas cócegas nas bochechas. Cuidadosamente retirou o corpo estranho e incrédula deparou-se com uma pena de ganso, que não era da almofada.

Será que o sonho não tinha sido um sonho?

COLABORAÇÃO DA MARIA ARAÚJO

Rodrigo Mendonça voltou para a cama, não sem antes praguejar por ter que a fazer, de tão empolgados estavam os lençóis e o edredão.
Deitou-se. Às voltas na cama, e de tão cansado que estava, o sono parecia não querer nada consigo. Finalmente, chegou.
Acordou com uma ténue dor de cabeça, sentia-se cansado, mas não tanto como na véspera,tinha de se levantar,não podia adiar, queria voltar lá.
Espreguiçou-se, como de costume, o suficiente para sair da cama, tomar o duche, e o pequeno-almoço, tipo brunch, pois não tinha horas para o almoço, que era quando a fome apertava.
Abriu o frigorífico,não tinha nada de jeito. O que lhe acontecera no dia anterior, e aquele rosto lindo de Clariana, fizera-o esquecer de ir ao supermercado.
Saiu, passou no café perto de casa, pediu o costume, como quando não tinha nada em casa, ou tempo, para o fazer: salsichas com batatas fritas, ovo estrelado, um verdadeiro british breakfats, com umas boas fatias de pão ainda quentinhas, e um sumo de laranja, ou um chá, que o senhor Ernesto, o dono do café, preparava muito bem.
Devorou tudo com satisfação. Estava,agora, preparado para lá voltar. 
Queria fazer alguma coisa por aquela jovem pastora, de gansos...

COLABORAÇÃO DA MISS X

Os pensamentos de Clariana pastoreavam os gansos, guardando-os em palavras, que depois libertava em verdes ecos pelos montes assustados de tanto pensar. 

Num desses pensamentos imaginava o mar. Nunca o vira. Diziam que ia e vinha, brincando com os pés, fazendo-os rir de tanto frio e de tanto azul.

Da maresia surgia um búzio que contava futuros de pertos e de longes.

Sussurrava-lhe ao ouvido: Clariana... Clariana... O seu nome perdido pelas intermitências da maresia. 

Era Rodrigo que a chamava num aceno despenteado, beijando o seu nome na distância.

- Clariana... Clariana... - a sua boca cheia de vogais doces e de consoantes cantadas em abraços que nunca mais chegavam.

Clariana guardava Rodrigo no seu rebanho, junto aos pensamentos que pastoreava.

Ela sabia que as pessoas já não conseguem viver dentro de pássaros. Não conseguem sair do chão. Mas Rodrigo vivia num pássaro que andava sempre nas nuvens e levava o coração dela nos seus voos. 

Ela deixava, mas ele não sabia.

- Clariana... Clariana... - Rodrigo alcançou-a e deu-lhe a mão cheia de estrelas roubadas.

Talvez ele já soubesse.

 

THE END

 

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[13 de Maio de 2020] este conto teve início a 30 de Abril e termina a 30 de Maio de 2020.
obrigada a todas e todos pelo entusiasmo e fascinantes episódios. já tenho outro desafio pronto para o final do ano sem fim à vista. quanto à Clariana ainda há dezassete dias de conto por contar.

28
Abr20

hoje a minha companheira de vida faz dezassete anos

Ana a Abelha

28 de Abril de 2003
© ANA DE DEUS | KUKI 2020

vivemos juntas desde que ela tinha sete semanas.

quando a gata da minha irmã ficou prenha eu disse que ficava com uma fêmea das crias, pois sempre tivemos dificuldade em encontrar casa para as gatinhas. e nasceram quatro filhotes. três machos e uma fêmea. não havia como errar.  estávamos destinadas uma à outra. ela é um anjo que eu posso abraçar, dar turrinhas e afagar.

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